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Ao Fechar os olhos



Não sei como me aproximar
Dizer da minha necessidade
De seguir, passo a passo, me aventurar
Pelos caminhos da insanidade.
Fecho os olhos, ele se aproxima
Sei que logo não terei mais controle
Então, suplico: Me ensina
Me guia, me leva
Me toma em seus braços
Me adormece e quem sabe
Nos sonhos que me trouxer
Eu me encontro
E te acho
E te achando, quem sabe?
A loucura se acalma em mim
E passo a não ser mais uma
Me transformo, me transfiguro
Sendo apenas... Sua!"

A Decisão

Em sua casa havia um pote de vidro. E dentro desse pote, várias bolinhas.. 
Essas bolinhas eram lindas, brilhavam e refletiam a luz quando o sol as atingiam.
E tudo ao seu redor era pura luz, deixando tudo lindo!
Mas nem sempre era a luz do sol que entrava pela janela e atingia as bolinhas.
Vez ou outra, o tempo lá fora fechava e nuvens tomavam conta deixando tudo nebuloso e ventos fortes traziam para dentro da casa folhas mortas e junto com a poeira, grudavam nas bolinhas
Ela, corria para fechar as janelas e portas para evitar que tudo ficasse sujo.
Pegava com carinho o pote de bolinas e ia tirando uma a uma e limpando. E depois de limpas, com muito cuidado, ia colocando de volta dentro do pote de vidro. 
Quando o tempo clareava, ela ia abrindo as portas e janelas e deixando o ar puro entrar.
Os dias iam passando e ela continuava fazendo o possível para manter sua casa e o pote limpos. Vez ou outra, revolvia as bolinhas, mudando-as de posição para ter certeza de que todas teriam a oportunidade de receber luz e de que todas estavam limpas. 
Ela sabia que era necessário que as bolinhas estivessem limpas!
Um dia, depois de uma tempestade grande, barulhenta que trouxe muitas impurezas para dentro de sua casa, e consequentemente para dentro do pote de bolinhas, depois de correr para fechar as portas e janelas, depois de tirar todas as bolinhas do pote e limpa-las com carinho e recolocá-las em seu lugar... depois de fazer tudo que podia, se viu exausta!
Certo dia, ela percebeu que algumas bolinhas estavam faltando... o pote estava mais vazio. 
Lembrou que ela não morava sozinha naquela casa, entretanto, na grande maioria das vezes era ela quem cuidava desses afazeres, sozinha. A outra pessoa não gostava do trabalho de limpar a casa e muito menos de limpar as bolinhas, pois realmente dava muito trabalho! Era muito mais fácil tirar as bolinhas e jogá-las fora, na opinião da outra pessoa.
Ela, quando percebeu isso, sentiu-se imensamente triste, pois aquele pote de vidro cheio de bolinhas irradiava luz por toda casa.
Saiu procurando pelas bolinhas que faltavam para tentar recupera-las, para tentar consertar-las. Mas  nem todas ficaram como antes. A maioria estava faltando pequenas partes, com sujeiras já encrustada, outras de fato quebradas.
Seu ânimo em manter tudo arrumado, tudo limpo e as bolinhas com a superfície lisa para refletir a luz foi se esvaindo aos poucos...
Um dia, o mau tempo chegou e ela, sentada em sua cadeira, ali ficou permaneceu, vendo tudo se encobrir de folhas e poeira.
Quando o sol brilhou novamente, ela se levantou calmamente, caminhou até o pote esvaziou-o, deixando todas as bolinhas rolarem pelo chão. Colocou o pote em seu lugar de costume e então caminhou até a porta. Parou, olhou para a casa suja e vizualizou-a limpa novamente e sentiu-se bem. Mas lembrou-se que na maioria das vezes, limpava tudo sozinha e sentiu-se cansada!
O que fazer? Ficar e limpar e tentar novamente ou seguir e deixar tudo que amava para traz?

Vestindo-me para a vida

 Hoje resolvi me vestir pra vida!
Separei meu melhor sorriso,
Demorei para encontrar, mas encontrei
Calcei a força de vontade,
Fazia tempo que não a usava, achei que não fosse mais servir em mim.
Procurei um casaco que eu tinha, bonito, quente, que me dava uma sensação de bem estar...
Estava no fundo do armário, toda amassada, não tinha a beleza que me lembrava.
Mas liguei a determinação na potência alta e dei um jeito. Me vesti com a esperança!!
Escolhi um perfume suave, com odor de boas novas.
Mas estava ainda com frio, apesar de aquecida com a esperança. Percebi que era meu coração que estava gelado, todo rasgado e que os remendos que fiz haviam se soltado.
Eu o peguei com carinho, e coloquei no sol enquanto terminava de me arrumar, para recarregar, reaquecer..
Quando percebi, já estava atrasada e sai correndo para não perder o ônibus que me levaria ao meu destino.
Depois de me acomodar no ônibus, verifiquei que deixei meu estoque de paciência, e na bolsa que trouxe comigo, havia só um pouquinho. Bem, terei de me virar com o que trouxe, e espero que não falte durante o dia!
Percebi, mais tarde, que havia esquecido meu coração em casa, desprotegido, ao sol...
Espero que os ratos do descontentamento, os pombos do rancor, os ventos das adversidades não terminem de destrui-lo... por um breve momento tive medo!
Mas isso já fazem algumas horas e se consegui ficar sem ele até agora, é porque talvez seja melhor assim... 

Amar

Amar não é dizer sempre sim
não é aceitar tudo que nos trazem ou fazem
Amar é saber dizer não
é saber mudar uma situação
é, muitas vezes precisar mudar ...
Amar não é fazer tudo pelo outro,
Seja esse outro quem for,
Amar é muitas vezes deixar
que o outro enfrente a própria dor.
Não é simplesmente abandonar!
É se manter por perto
mesmo sem poder fazer nada...
Deixar que o outro saiba que se precisar
você está ali, de braços abertos
Amar, significa também entender
que a dor é do outro, sim, 
mas que você também vai sofrer.
É cuidar de longe, 
é orar, 
é ... amar
pura e simplesmente.

Sentimentos

Estou cheia de sentimentos desentendidos e 
cansados de conviverem no mesmo espaço. 
Precisam sair e se manifestar, mas a porta é estreita e a ansiedade provocada
pela urgência de serem externados, impedem de se organizarem.
Entre empurrões, quedas e pisoteios, muitos se feriram 
e outros tantos morreram.





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